Menu fechado

DESCOBRINDO NOVOS E BONS CAMINHOS

Fomos convidados para nossa primeira reunião no MFC, pelo Padre Rafael e, assim, fomos numa reunião do Grupo Aliança, onde nos sentimos amorosamente acolhidos por todos. Para mim, que costumo ser cautelosa, foi ótimo perceber que havia um ex-aluno do Pacífico (meu esposo), o Daniel da Carla. Isso acalmou meu coração. Gostamos muito da reunião e logo recebemos uma visita, do casal Rosinha e Laércio, que nos convidou para participar do 78º Encontro de Corações.

Admito que fiquei preocupada por não poder ir com nosso carro e nem levar o celular. Mas, ao nos reunirmos no local combinado, meu coração ficou mais tranquilo quando revi um casal, amigo de longa data e que eu não via a uns 20 anos (Gilson Laureano e Marcia). Pensei: O Gilson e a Marcia não iriam me deixar entrar numa fria.  

No decorrer do Encontro, meu coração foi se abrindo, minha alma foi se desnudando e, num momento muito forte e marcante do Encontro, me veio a mente, uma lembrança. Um fato ocorrido em agosto de 1990 e outro, no início de março de 1991, que me levaram a desenvolver depressão. 

Eu trabalhava durante o dia, fazia especialização às sextas-feiras a noite e aos sábados, pela manhã. Meu pai tinha tido 7 derrames, minha mãe havia quebrado o joelho, e eu cuidava dos dois. Na segunda quinzena de agosto de 1990, eu tinha uma prova na sexta-feira a noite. Dei alimentação e remédios para os meus pais e os coloquei na cama. Deixei a água e o telefone ao lado da cama, e disse que eu precisava fazer a prova e que, voltaria em seguida. No entanto, começou a chover, e como eu era motoqueira, meu pai ficou preocupado e pediu para eu não ir. Disse a ele que precisava sair, pois era dia de prova. Coloquei bota e roupa a prova d’agua e fui para a UEM, deixando meu pai muito contrariado. Mas, como eu sempre fui uma filha muito obediente, o fato de ter contrariado o meu pai, fez com que eu fizesse a prova chorando. Ao retornar para casa, soube que meu pai tinha tido um 8º derrame, que o deixou ainda pior, acamado e, totalmente, dependente. Fato que me fez sentir culpada.

De agosto de 1990 ao início do mês de março de 1991, precisei manter meu pai em um quarto, separado de minha mãe, pois ela já estava idosa e cansada e, não queria mais dormir com ele, pois demandava muitos cuidados. Assim, passei a ficar todas as noites ao lado dele, com exceção de uma noite por semana (de sábado para domingo), quando uma das minhas irmãs ficava com ele. Contudo, como ele passava todas as outras noites comigo, ele sentia minha falta e ficava a noite toda me chamando e dizendo: “Cadê a Regina?” “Ela me abandonou?” “Ela não gosta mais de mim?” Eu ouvia do meu quarto, pois nossa casa era de madeira e, assim, eu não conseguia dormir. 

Igualmente, nas outras 6 noites da semana, em que eu passava a noite do lado dele, ele pedia para deixar a luz acesa e, quando eu começava a cochilar ele mexia no meu rosto e pedia: “Filha, não dorme não. Fique acordada com o pai.”

Naquela época, eu trabalhava o dia todo, para poder pagar as despesas, e ainda, fazia pós-graduação na UEM. Nossas condições financeiras eram muito precárias e, o máximo que podíamos fazer era pagar uma cuidadora durante o dia, enquanto eu estava no trabalho.    

No início de março de 1991, numa noite em que meu pai estava muito agitado, e eu extremamente cansada, me pareceu que o remédio receitado para ele dormir, não estava fazendo efeito e, como eu não conseguia mais ficar acordada, dei a ele 2 comprimidos ao invés de 01, para que eu pudesse descansar um pouco também. Nós dois dormimos, mas, no dia seguinte, eu tentei acordá-lo e ele não acordava. Eu o peguei em meus braços, embora ele fosse maior do que eu e o coloquei no meu carro (um fusca bege, na época) e o levei ao hospital.

Ele havia tido outro derrame, numa área central do cérebro e caso sobrevivesse, ficaria vegetando. Nesse momento, me ajoelhei e pedi a Deus que não o deixasse sofrer e que fizesse o melhor por ele. Naquela noite, ele morreu e eu me sentia  culpada por ter dado 2 comprimidos ao invés de 1 e, principalmente, porque ele sempre me pedia: “Filha não me deixe morrer. Por favor.” Até que um dia, no desespero de acalmá-lo eu disse: “Pai, eu não tenho o poder de impedir que o senhor morra. O que eu posso fazer é morrer com o senhor.” Isso não saia da minha cabeça, fazendo com que eu me sentisse culpada por ter levado ele a ter AVC e, por não ter morrido com ele. Situação que me levou a um quadro de depressão, que fez com que um mês após a morte dele, eu precisasse ficar uma semana internada.

Tudo isso me veio à mente no Encontro, como se tivesse ocorrido no dia anterior. Pedi para me confessar, e o Padre Luiz, com toda certeza, iluminado pelo Espírito Santo, com suas palavras de sabedoria, me fez enxergar o quanto eu estava enganada e, ainda me disse: “Filha, vá ser feliz”. Essas palavras soaram como um bálsamo na minha vida.

Hoje, participamos do Grupo Aliança e nos sentimos entre amigos que parece que conhecermos a vida toda. É como se, de repente, nossa família tenha se expandido, pois as amizades que fizemos, são mais do que simples amizades… tornando-se FAMÍLIA!

Somos eternamente gratos ao Padre Rafael e à Rosinha e ao Laércio por terem nos convidado a participar e suportado minha cara de “desconfiança”. Mais ainda, pelo carinho com que somos tratados por todos os membros do MFC.

Maria Regina da Fonseca e Jose Carlos Pacífico